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ACT
Com 40% dos brasileiros vacinados com duas doses ou dose única da vacina e a sensação de que a pandemia de Covid-19 parece estar sob controle – segundo pesquisa do Datafolha, 80% da população acredita que a doença está domada -, já é mais que hora de olharmos com atenção para um “efeito colateral” que nos acompanhará por muito tempo: o aumento de casos de transtornos mentais, uma verdadeira pandemia dentro da pandemia.
Não se trata de achismo. É uma certeza, constatada diariamente nos consultórios, clínicas, posicionamento de organizações e associações médicas, além de depoimentos de colegas psiquiatras e pacientes. A imprensa relata, com frequência, que algumas das maiores empresas do Brasil têm demonstrado especial preocupação com a saúde mental. Transtornos como burnout, ansiedade e depressão têm impactado o rendimento dos funcionários e, como consequência, o resultado dos negócios. Atento a isto, planos de saúde iniciaram campanhas de conscientização e ajuda aos colaboradores.
A pandemia de Covid-19 promoveu uma combinação trágica: novos casos de doenças mentais e desassistência aos casos já existentes. Estudo publicado no renomado periódico científico The Lancet, com amostra representativa da população brasileira, compara a expectativa de número de atendimentos em saúde mental antes da pandemia com os atendimentos de fato ocorridos. O resultado é preocupante: houve uma redução de 28% nos atendimentos ambulatoriais entre março e agosto de 2020. Os atendimentos em grupo sofreram redução de 68%, e as hospitalizações diminuíram em 33%. Sem a assistência preventiva especializada, os atendimentos de emergência cresceram em 32% no mesmo período.
Desde o surgimento da Covid-19, em fevereiro de 2020, a Organização Mundial de Saúde vinha externando sua inquietação com o impacto da doença no atendimento aos pacientes com transtornos mentais. Meses depois, um estudo da OMS corroborou o temor: 98% dos países diminuíram à metade suas consultas em saúde mental. Ou seja, quando a população mais precisou de apoio – com aumento nas taxas de ansiedade, transtorno de stress pós-traumático, depressão e consumo excessivo de bebidas alcoólicas – houve uma carência de suporte especializado. No entanto, cabe ressaltar a importância dos atendimentos on-line, que já ensaiavam uma expansão e se confirmaram como viáveis, seguros e eficazes em boa parte dos casos durante a pandemia.
Agora, as autoridades não poupam otimismo em prever que o verão de 2022 será inesquecível. “A estação da retomada da vida”, afirmam. Suponho que, com responsabilidade, ninguém seja contrário a esse sentimento. Mas é premente voltar a atenção aos rastros danosos da Covid. Uma crise crônica na saúde mental da população se avizinha, com potencial de ficar entre nós por muito mais tempo que o coronavírus. Muitas pessoas ainda não conseguirão enxergar as belezas do verão. É a estes que devemos nos voltar agora, com foco, eficiência e empatia.
Analice Gigliotti é Mestre em Psiquiatria pela Unifesp; professora da PUC-Rio; chefe do setor de Dependências Químicas e Comportamentais da Santa Casa do Rio de Janeiro e diretora do Espaço Clif de Psiquiatria e Dependência Química.
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