C@ros,

Meu nome é Denize, muitos já me conhecem pelo meu trabalho na ACT, mas neste espaço, a partir dessa semana, vocês conhecerão a Denize fumante e o início da minha batalha rumo a uma nova fase da minha vida, uma vida mais saudável e livre do cigarro. E é essa batalha diária, com todas as suas alegrias, frustrações, medos, angústias e conquistas que pretendo compartilhar com vocês pelos próximos meses.

Para começar, um breve histórico de minha relação com o cigarro:

Comecei a fumar aos 14 anos, na escola, junto com amigos, no intuito de me enturmar, de me firmar, de mostrar para mim mesma e para o mundo que eu tinha crescido. E, assim como acontece com muitos adolescentes, o cigarro foi me acompanhando por toda a minha adolescência e hoje, já uma mulher adulta de 30 anos, não consigo me livrar dele simplesmente porque quero ou preciso.

Já iniciei e reiniciei esta caminhada algumas vezes sem sucesso, mas a verdade é que nunca estive tão decidida e comprometida como agora.

Há 12 anos, quando engravidei do meu filho, decidi parar de fumar. Consegui ficar firme nesta decisão durante toda a gravidez. Porém, 15 dias após o nascimento do Pietro, voltei a fumar sem nunca mais pensar em parar.

Em 2009 comecei a trabalhar na ACT e omiti a minha condição de fumante. Digo omiti porque em nenhum momento fui questionada se era fumante, pois isso não era condição para participar ou não da equipe. Assim, a omissão inicial foi para conseguir o emprego, depois para permanecer nele. Passado o tempo, mesmo conhecendo o trabalho da ACT e sua relação com o fumante (que é vítima e não cúmplice da indústria do tabaco), e mesmo sabendo que o fato de ser fumante não invalidaria o meu trabalho, continuei omitindo, mas por vergonha de realizar um trabalho com toda dedicação, por ter o acesso que tinha às informações e tratamentos, por conviver diariamente com pessoas que lutam para minimizar os impactos do tabagismo, por lutar junto com eles… e permanecer fumante. Desde então, tentei diversas vezes parar de fumar. Depois de 2 anos e inúmeras tentativas e recaídas, abri meu coração para toda a equipe e tive todo o apoio, respeito e consideração de todos.  Deixaram claro que a minha condição de fumante não invalidava o meu trabalho, que eu não precisava ter escondido isso por tanto tempo e que eu teria o apoio de todos caso, por iniciativa própria, quisesse um dia parar de fumar e precisasse de ajuda. Mais de um ano se passou e outras tentativas e recaídas aconteceram, até que percebi que não consigo sozinha e cheguei à conclusão de que este é o momento de iniciar um tratamento e de me livrar desse inimigo com o qual convivo há 16 anos.

Assim, ao falar sobre a minha decisão com meus colegas da ACT surgiu a ideia de compartilhar cada dia dessa dura batalha com cada um de vocês através desse espaço. Isso poderia ser feito de forma anônima, essa opção me foi dada, mas decidi me identificar, pois entendo que isso será mais um incentivo e uma motivação para me manter firme na minha decisão e que não devo ter vergonha da minha condição de fumante, pelo contrário, devo ter orgulho da minha decisão de parar.

Então, gostaria de enfatizar que não é a Denize, como secretária da ACT, quem estará aqui diariamente e sim a Denize, como uma pessoa passando pelo difícil processo de romper com a dependência, que fará relatos pessoais dessa experiência que decidiu socializar com vocês.

Espero que os relatos diários que acontecerão aqui possam ajudar muitos a tomarem a iniciativa de parar de fumar e para que percebam que é difícil, mas que com apoio, dedicação e força de vontade é possível e é a melhor decisão a ser tomada. Mais ainda, espero que os que ainda não decidiram, entendam que é preciso ter a consciência de que esta decisão é SUA, e é você quem deve querer e tomar a iniciativa.

É isso, pessoal. Tomei a decisão e procurei a rede pública de saúde, já fiz a entrevista inicial e na próxima quinta-feira inicio o tratamento junto com outras pessoas que estão travando a mesma batalha contra o cigarro.

Estou nesse momento na fase de conscientização antes de iniciar o tratamento, de entender o meu relacionamento com o cigarro, quando ele é uma necessidade e quando ele é um hábito em meu cotidiano para, a partir daí, trabalhar essa relação e buscar a melhor forma de romper com esses laços.

Espero contar com a compreensão e o apoio de todos, comentem, relatem e compartilhem suas histórias conosco.

Abraços e até amanhã.

Denize