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Anna Monteiro
“Lucrando com a dor” é o título de publicação lançada por ocasião do Fórum Econômico Mundial, pela Oxfam, organização internacional que vem trabalhando com a questão da desigualdade, entre outros temas urgentes. A pesquisa apresenta dados chocantes relacionados ao maior aumento já registrado da desigualdade social, racial e de gênero, causado pela Covid-19. Também expõe como os poucos bilionários do planeta lucraram acima da média durante a pandemia, ao mesmo tempo em que salários ficaram estagnados e trabalhadores encararam alta nos preços dos produtos básicos.
São 2.668 bilionários em todo o mundo, 573 a mais que em 2020, com fortuna que chega a US$ 12.7 trilhões, um aumento de US$ 3,78 trilhões. É uma riqueza total equivalente a 13,9% do PIB global. Por outro lado, o relatório aponta que o mundo poderá ter um milhão de pessoas empurradas para a pobreza extrema a cada 33 horas.
Quatro setores se destacam: o de produtos alimentícios, energia, tecnologia e de medicamentos.
No caso dos alimentos, o destaque é que os bilionários desse setor tiveram sua riqueza coletiva aumentada em US$ 382 bilhões nos últimos dois anos, aumento de 45%. Durante a pandemia 62 novos bilionários surgiram no setor, e duas famílias se destacam: a Cargill e a Walmart. A família Cargill, com 12 bilionários, controla 70% do mercado agrícola mundial e seu maior lucro na história, de US$ 5 bilhões, foi em 2021, valor que deve ser ultrapassado já em 2022.
Ela, evidentemente, não é a única a ter lucros exorbitantes, segundo o relatório. Uma de suas concorrentes, a trading agrícola Louis Dreyfus Co., teve lucro aumentado em 82% no ano passado, em grande parte devido aos preços flutuantes dos grãos e às fortes margens das oleaginosas.
Abro parênteses para um fato curioso e que não está relacionado no relatório da Oxfam: em “O Sabor do Açúcar”, livro do jornalista Marques Casara, da Papel Social, apoiado pela ACT, estão relatados crimes atualmente praticados em fazendas produtoras de cana de açúcar vinculadas à maior cadeia produtiva de açúcar do mundo, controlada pela Coca-Cola e pelos quatro principais operadores globais de commodities agrícolas, o chamado grupo ABCD: Archer Daniels Midland (ADM), Bunge, Cargill e Louis Dreyfus Company. São crimes como prática de trabalho escravo, invasão de terras indígenas, contaminação ambiental, grilagem de terras, desmatamento, fraudes tributárias, intoxicação de trabalhadores por agrotóxicos. Fecha parênteses.
A segunda família bilionária destacada no relatório da Oxfam, a Walton, tem metade das ações da rede de supermercados Walmart e seus membros têm, juntos, US$ 238 bilhões, aumento de US$ 8,8 bilhões em relação a 2020. No ano passado, a empresa pagou US$ 16 bilhões aos acionistas na forma de dividendos e recompras de ações. A média salarial de um trabalhador do Walmart é de US$ 20.942 anuais.
O relatório também expõe como o acúmulo de riqueza incentiva os mais diversos lobbies. Um dos exemplos vem da área de medicamentos. A pandemia da Covid-19 criou 40 novos bilionários do setor farmacêutico, que lucram com o monopólio de suas empresas sobre vacinas, tratamentos, testes e equipamentos de proteção individual. Além de atuarem para evitar a quebra de patentes, o que tornaria as vacinas mais baratas e, logo, mais acessíveis, várias das empresas do setor farmacêutico evitam pagar impostos nos países, usando paraísos fiscais e práticas fiscais agressivas.
Na parte final do documento, a Oxfam apresenta uma série de medidas para tentar diminuir as desigualdades. A mais urgente seria a implantação, pelos governos, de tributos progressivos, na qual os impostos aumentam mais que proporcionalmente com o aumento da renda dos contribuintes. O valor arrecadado seria usado para investir em medidas comprovadas para redução da desigualdade, como proteção social e saúde.