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Anna Monteiro
Nos últimos anos, a consciência sobre o racismo é cada vez maior entre a população brasileira, e nesse contexto, cresce também a representação de pessoas negras e uso de simbologias ligadas à cultura afro-brasileira em produções culturais, audiovisuais e campanhas de publicidade. Em relatório sobre blackwashing recém-divulgado, a ACT Promoção da Saúde revela que o compromisso com o antirracismo alegado por indústrias de produtos nocivos à saúde não passa de tática para aumentar a venda destes produtos junto à população negra, que é também a mais acometida pelas doenças crônicas não-transmissíveis associadas ao uso de tabaco, bebidas alcoólicas e produtos ultraprocessados.
A publicação apresenta o conceito de blackwashing, que consiste no engajamento de indústrias na pauta antirracista com a finalidade de melhorar a reputação perante o público e decisores políticos. Além de situar a prática como uma das formas de ação política corporativa, a publicação identifica e analisa ações de blackwashing realizadas por grandes indústrias cujos produtos são fator de risco para doenças crônicas não transmissíveis, em três diferentes setores comerciais: alimentos e bebidas ultraprocessados, bebidas alcoólicas e tabaco.
De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde de 2019, 28,6% das pessoas negras consomem regularmente alimentos açucarados, enquanto 15,7% da população branca referiu o mesmo hábito. Ainda segundo a mesma pesquisa, a prevalência de tabagismo é mais alta entre pessoas pretas e pardas (13,7 e 13,5%) do que entre pessoas brancas (11,8%). E de acordo com o Vigitel 2018, o consumo de álcool de forma abusiva acomete 19,2% de pessoas negras, em comparação à 16,6% entre pessoas brancas. “O negro brasileiro vive sob constante tensão devido aos episódios do racismo cotidiano: violência do Estado, desemprego, miséria e situações de injúria racial”, afirma a publicação. “Todos esses fatores atuam como potencial estressor, e podem desencadear comportamentos prejudiciais à saúde, como é o caso do consumo abusivo de álcool e do tabagismo, além de dificultar a adoção de hábitos saudáveis, como uma alimentação adequada e a prática de atividade física”.
O “Relatório Blackwashing” traz breves históricos que exemplificam a atuação destas grandes corporações, que desde o século XX usam a imagem de pessoas negras para impulsionar vendas, a despeito do mal à saúde provocado por seus produtos. E compara ações e práticas dessas indústrias entre 2019 e 2021, antes e depois da campanha global #BlackLivesMatter, que pediu justiça pela morte de George Floyd, um homem estadunidense negro, morto por policiais durante uma abordagem em 2020. No Brasil, o movimento coincidiu com o assassinato de João Alberto Freitas, negro, assassinado em uma unidade dos supermercados Carrefour.
Um dos exemplos mostrados no relatório é o da marca de cervejas Devassa, que pertence à fabricante Heineken. Em 2012, a Devassa foi processada por publicidade abusiva e conteúdo discriminatório pela divulgação da cerveja preta, e, após ser comprada pela Heineken, em 2017, iniciou um redesenho da marca, que, de acordo com relatório interno, “visa enaltecer o legado da ancestralidade negra para a construção da cultura do Brasil, valorizando a criatividade transformadora dos brasileiros e promovendo o protagonismo negro”. Analisando os relatórios anuais de 2020 e 2021, a pesquisa identificou que, apesar de utilizar garotas-propaganda negras, estratégias de marketing com influenciadores negros e patrocínios a eventos musicais “para celebrar a cultura negra”, uso de simbologias e vocabulários associados à cultura afro-brasileira – os diretores de marketing da empresa e da agência publicitária responsável pelo novo posicionamento da Devassa são pessoas brancas.
O tema é, também, o ponto central da edição mais recente do MonitorACT.